É viável começar uma empresa apenas com financiamento bancário?

Para o professor de finanças do Insper George Ohanian não é viável erguer uma empresa só com dinheiro dos bancos


Por George Ohanian

"É viável começar uma empresa apenas com financiamento bancário? Qual é a proporção ideal? Há linhas específicas para quem está começando agora o negócio?"
Jazon Pereira

Prezado Jazon,
Imagino que você já gastou um bom tempo planejando a sua nova empresa e não vê mais a hora de “botar a mão na massa”. Neste ponto, você deve estar imaginando se precisa mesmo esperar até juntar um capital, ou se tem jeito de “pegar um atalho”, como por exemplo, levantar todo o dinheiro por meio de empréstimos bancários e abrir logo seu novo negócio. É daí que surge a sua pergunta, não é?!
Perguntas como a sua são muito interessantes, pois tocam num ponto crítico de qualquer empreendimento, ou seja, como fazer para financiá-lo. Nesse assunto, qualquer decisão mal tomada pode inviabilizar a iniciativa ou mesmo acarretar sérios problemas no futuro.
Respondendo então às suas perguntas, eu, de imediato, digo para você que não é viável erguer a sua empresa só com dinheiro dos bancos. Ou seja, só com dívidas e sem capital próprio (dinheiro dos sócios).

Isso ocorre porque, em primeiro lugar, será praticamente impossível encontrar bancos que aceitem financiar todo o capital da sua empresa e o motivo é muito simples: os bancos não estão lá para correr o risco comercial do seu negócio. O dinheiro que eles te emprestam vem dos depósitos que eles captam de seus clientes. Esses depósitos têm data para vencer e são remunerados a taxas de juros pré-definidas. Dessa forma, mesmo que a sua empresa passe por dificuldades em determinados períodos, os bancos não irão abrir mão de cobrar o principal e os juros das dívidas (senão eles é que terão problemas com os depositantes).
Perceba então que, no final das contas, quem tem que aguentar os baques do risco comercial da empresa é o sócio. É ele, por exemplo, que vai ficar sem receber os lucros em épocas de “vacas-magras”. No fundo, o capital dos sócios é que vai servir de “colchão” para absorver os altos e baixos da atividade empresarial.

Aqui, e faço um gancho com a segunda parte da sua pergunta, onde você indaga qual deve ser a proporção ideal de endividamento.
Dá para perceber que, quanto maior for o capital próprio, maior será esse “colchão” que a empresa terá para absorver as flutuações do negócio. Assim, em empresas novas, onde naturalmente há maior incerteza sobre os resultados futuros, é prudente manter maior nível de capital próprio, ou seja, níveis mais baixos de endividamento.
Uma regra de ouro a ser seguida é que dívida boa é aquela que a empresa consegue pagar. Deve-se, portanto, comparar os juros da dívida com a expectativa de geração de caixa da empresa para determinar o nível aceitável de endividamento. Usando um exemplo simples, uma dívida de R$ 100 mil a uma taxa de juros de 10% a.a. vai comprometer R$ 10 mil do caixa anual da empresa. Se as projeções indicam que a empresa, depois de pagar todas as despesas (menos juros) vai gerar R$ 15 mil de caixa anualmente, então o endividamento, nesse exemplo estará comprometendo cerca de 70% da geração anual de caixa da empresa, o que é muito alto. O ideal é que esse percentual fique, no máximo, por volta de 20%, em se tratando de empresas novas.

É importante também levar em conta os prazos das dívidas, lembrando que dívidas mais longas diminuem o risco por não comprometer sobremaneira o caixa da empresa no curto-prazo. Não esquecer, é claro, de analisar o custo da dívida, comparando-o com a rentabilidade esperada do seu projeto.

Com relação à última parte da sua pergunta, as linhas de crédito mais apropriadas para quem está começando vêm em geral de bancos públicos que têm acesso a recursos do governo e, dessa forma, podem cobrar taxas menores.

Uma opção interessante é o PROGER (Programa de Geração de Emprego e Renda) - um conjunto de linhas especiais de crédito, oferecidas pelo Banco do Brasil (BB), Caixa e Banco da Amazônia para financiar quem quer iniciar ou investir no crescimento de seu próprio negócio. Maiores detalhes sobre o PROGER podem ser obtidos no site do Ministério do Trabalho e Emprego.

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